Em conversa telefônica de 30 minutos, presidentes do Brasil e dos EUA decidem manter contato direto, levantando preocupações sobre segurança e transparência nas relações entre os países
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à esquerda e Presidente Donald Trump à direita | Reprodução: CNN
No dia 6 de outubro de 2025, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram por telefone por cerca de 30 minutos. Ao final da ligação, ambos trocaram seus números pessoais. Segundo Lula, o gesto teve o objetivo de garantir que “os presidentes não precisem de intermediários” ao tratar de temas urgentes entre Brasil e Estados Unidos, especialmente sobre as altas tarifas comerciais impostas recentemente.
O tom amistoso adotado por Lula e pelo governo brasileiro, sem a participação do Itamaraty ou do Departamento de Estado norte-americano, pode quebrar protocolos diplomáticos e gerar ruídos institucionais. O professor de Relações Internacionais da USP, Carlos Bittencourt, avalia que “quando líderes se comunicam diretamente, sem a presença de diplomatas ou registros oficiais, cria-se um vácuo de transparência. Isso pode dar margem a interpretações erradas e comprometer negociações futuras”.
Até o momento, o Itamaraty não divulgou uma nota formal sobre o episódio, mas fontes internas afirmam que há preocupação com a informalidade do gesto, especialmente diante do cenário de tensões comerciais entre os dois países.
Para especialistas, a questão central não é a conversa em si, mas a forma como ela ocorreu. O uso de linhas pessoais, fora de canais monitorados e registrados, levanta dúvidas sobre a segurança de informações sensíveis sobre a preservação da soberania nacional. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), comunicações entre chefes de Estado costumam seguir protocolos rigorosos de segurança diplomática, justamente para evitar vazamentos e interferências externas.
A conversa entre Lula e Trump também tem implicações econômicas diretas. Desde agosto de 2025, os Estados Unidos passaram a aplicar tarifas de até 50% sobre diversos produtos brasileiros, medida que afetou as exportações e reduziu em cerca de 0,2 ponto percentual o PIB nacional, segundo estimativas da Secretaria de Política Econômica (SPE). Durante a ligação, Lula teria solicitado a retirada dessas tarifas e discutido formas de restabelecer o fluxo comercial.
De acordo com a XP Investimentos, o comércio dos EUA representa mais de 12% das exportações brasileiras, com destaque pra os setores de ferro, aço, combustíveis e produtos industriais. Mas esse percentual pode ser muito maior se considerarmos as cadeias de produção intermediárias. Mudanças no tom diplomático podem influenciar diretamente a confiança de investidores estrangeiros e a cotação do real, refletindo no desempenho do mercado financeiro.
Por: Pedro Santos
Revisado e editado por: Carol Soutto