Morte da jovem em show de Taylor Swift reacendeu debate sobre falhas na estrutura e no preparo de eventos que atraem multidões.
Foto de Sebastian Ervi | banco de fotos gratuitas Pixels
A morte da estudante Ana Clara Benevides, de 23 anos, durante o show da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro, em novembro de 2023, expôs a fragilidade da segurança e do atendimento médico em grandes festivais de música no país. O caso reacendeu a discussão sobre os riscos físicos aos quais os frequentadores estão expostos, especialmente diante das altas temperaturas e da falta de planejamento adequado.
Nos últimos anos, eventos como o The Town, Lollapalooza e Rock in Rio se tornaram febre entre o público jovem, atraindo milhares de pessoas por show. O crescimento, porém, vem acompanhado de desafios: superlotação, calor extremo e falhas de infraestrutura continuam a gerar preocupação entre especialistas e autoridades.
Segundo Júlia Baldi, diretora criativa do Mapa dos Festivais — plataforma criada em 2019 para mapear os eventos musicais realizados em todo o país —, o período pós-pandemia marcou o chamado “boom dos festivais”. Entre 2022 e 2024, o número de eventos cresceu de 125 para 380, impulsionado pela reabertura gradual e pelo aumento da demanda do público. No entanto, esse crescimento veio acompanhado de aumento de cancelamentos e adiamentos. Entre os principais motivos estão os altos custos de produção, que envolvem logística, infraestrutura, preço de passagens aéreas e cachês artísticos, além da má distribuição de verbas de patrocinadores, concentradas em grandes festivais da região Sudeste, com público superior a 80 mil pessoas.
Segundo Sara Loiola, presidente da Associação Brasileira de Festivais Independentes (ABRAFIN), os festivais passaram a ser vistos como produtos dentro da estratégia de muitas agências de marketing, que priorizam a promoção de marcas, relegando a música a um papel secundário.
De acordo com o projeto DanceSafe, organização internacional sem fins lucrativos voltada à segurança em eventos musicais, a hidratação adequada é uma das principais formas de evitar emergências médicas. O grupo recomenda o consumo de dois a quatro copos de água por hora, aliado à ingestão de alimentos salgados para evitar hiponatremia — quadro causado pelo excesso de água e perda de eletrólitos.
Medidas preventivas simples podem salvar vidas. Festivais como o The Town adotaram bebedouros distribuídos pelo local, venda de alimentos leves e espaços de descanso, reduzindo o risco de desmaios e exaustão térmica. A presença de equipes médicas, rotas de evacuação e comunicação eficiente entre seguranças e socorristas também são apontadas por especialistas como fundamentais para garantir o bem-estar do público.
A superlotação é outro problema recorrente. Segundo o Corpo de Bombeiros de São Paulo, a capacidade máxima de cada evento deve respeitar limites técnicos de segurança. O não cumprimento dessas normas pode gerar pânico, desordem e acidentes graves. A recomendação inclui o uso de detectores de metal, câmeras de vigilância e revistas na entrada para evitar tumultos e a entrada de objetos perigosos.
Para que grandes eventos sejam lembrados apenas pela música e pela experiência positiva, é essencial um planejamento estratégico rigoroso, alinhado à legislação e às orientações dos órgãos públicos. A tragédia de Ana Clara Benevides se tornou um marco doloroso, mas também um alerta: a diversão não pode custar a vida de ninguém.
Por: Wanessa Sanches
Revisado e editado: Larissa Brito